I M P R E N S A
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Em São Paulo: jornal “O DIA”
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H I S T Ó R I A S

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Por José Roberto Faria Lima, ex-deputado federal (anos 1970) e um dos revolucionários na área da informática no Brasil, durante homenagem ao centenário do nascimento de Jânio Quadros, no Palácio dos Bandeirantes, quando se dirigiu ao governador (SP) Gerado Alckmin: “Aprendi em casa que dívidas de gratidão têm que ser pagas de imediato. Ingratidão pra mim devia ser crime hediondo. Em 1961, meu pai, o então coronel aviador – depois brigadeiro Roberto Faria Lima – comandava a base aérea de Cumbica (SP), hoje Aeroporto Internacional de Guarulhos (São Paulo – Brasil). Era 25 de agosto, dia do soldado. Inesperadamente bate à porta de casa o Presidente Jânio Quadros (que no último dia 25 de janeiro de 2017 faria 100 anos), sua esposa Eloá e sua mãe, Leonor. Jânio pede que meu pai ligue pro governador (eleito por Jânio) Carvalho Pinto, que há muito custo atende, fazendo-se de desentendido (ocorria uma reunião de governadores em São Paulo). Jânio permanece tranquilo. Abala-se, quando pela televisão toma conhecimento de da divulgação de sua carta-renúncia. Ninguém sabia seu paradeiro. O governador mineiro Magalhães Pinto foi quem informou a imprensa da presença de Jânio em Cumbica. Rapidamente a notícia corre o Brasil. Preocupado com o que poderia acontecer, meu pai manda minha esposa e minha filha – hoje coronel Thereza Cristina – serem levadas pra São Paulo e coordena círculos de segurança em torno da base aérea …

P O L Í T I C A S 

… Logo ligam de Brasilia, pedindo a faixa presidencial que estava sob a farda do então major Amarante, irmão de Chaves Amarante (deputado na Assembleia Legislativa de São Paulo, que liderou a campanha de Jânio à Presidência em 1960). Amarante relutou, mas entregou ao meu pai, que acabou enviando-a à nova Capital (distrito federal). Na manhã seguinte, Jânio rumou pro Guarujá (litoral do Estado de São Paulo). Fechava-se ali um clico de quase 15 anos. Uma escalada vertiginosa de alguém que, de suplente de vereador em São Paulo, chegou ao cume de uma escalada política à Presidência da República – aos 43 anos de idade – e que renunciou ao cargo. Um roteiro de novela que mais parecia filme de ficção científica. No fundo, uma tentativa frustrada de golpe mal planejado e mal executado. Difícil de entender e aceitar. Como alguém que conhecia como ninguém a alma dos brasileiros podia ter cometido tal infantilidade ? Conhecia os brasileiros e desconhecia o Brasil ! O curto mandato de cerca de 7 meses sacudiu a nação. As coisas não devem ser avaliadas pelo tempo que duram, mas pela intensidade dos acontecimentos que ocorreram naquele período. Daí, situações inesquecíveis, fatos inexplicáveis e figuras incomparáveis. A morte tem algumas dimensões: o esquecimento ‘condenou’ Jânio a ser imortal (falecimento físico foi em 1992). Desde 1947 suas pegadas são indeléveis, podendo sua atuação ser consultada nos jornais da imprensa diária, livros, gravações (rádio e televisão), filmes da época, Câmara de vereadores de São Paulo, Assembleia Legislativa de São Paulo, prefeitura de São Paulo, Governadoria do Estado de São Paulo, acervo dos partidos pelos quais fez política, Câmara dos Deputados (só não foi senador) e Presidência da República …

S Ã O    P A U L O    

… Em 1962, como Fênix e não sabendo soletrar a palavra desistir, ‘renasceu’ pra buscar o Poder. Certa vez me disse que o Poder era afrodisíaco. Disputou, pela 2ª vez, o governo do Estado de São Paulo. Seu vice foi meu tio, o brigadeiro José Vicente de Faria Lima. Ambos foram derrotados (eleições eram pleitos separados, nos quais um vice podia até ter mais votos que o cabeça de chapa). Jânio perdeu pro seu rival preferido: o ex-governador paulista, Adhemar de Barros. Ficou no ostracismo, aguardando 1964. Acabou sendo um dos ex-Presidentes cassados (via governos militares entre 1964 e 1985). Jânio foi preso em Corumbá (então Mato Grosso) e exilado no exterior. Jânio participou, à distância, da vitória de Faria Lima pra prefeitura de São Paulo em 1965 (foi a última das eleições diretas pras Capitais e áreas de Segurança Nacional. Só em 1985 voltaram as diretas, quando Jânio foi eleito ao cargo pela 2ª vez). Antes dele ser novamente prefeito, em 1982 (ano em que o agora ex-Presidente Lula disputou sua 1ª eleição) Jânio disputou novamente o cargo de governador (SP), chapa na qual disputei o Senado. Foi uma disputa desigual, com regras casuísticas, na qual só pudemos concorrer em apenas 64 municípios (praticamente 10% dos mais de 600 os municípios do Estado de São Paulo) …

 

B R A S I L    

… Em 1985, na Praça da República, nossos adversários (Fernando Henrique), junto com artistas globais, faziam o encerramento da campanha. Tive notícias de pouco público. Por intuição, senti nossa vitória. Eu tinha implantado, junto com a Bandeirantes, um sistema paralelo de controle de votação com terminais em cada zona eleitoral; que confirmava a vitória. A campanha foi exaustiva. Corri a cidade inteira com Jânio, inclusive e principalmente o bairro de Sapopemba (Zona Leste). O presente, após a vitória, foi Jânio ter dito que teve que desinfetar a cadeira (na qual FHC sentou pra ser fotografado pela Veja como já ganhador), pois nádegas espúrias nela se sentaram. Foram apenas 3 anos de governo, sem grandes obras. Eu não pretendia participar da gestão, mas por insistência de Jânio assumi a presidência da PRODAM (Companhia de Processamento de Dados do Município), que na época foi elevada por ele ao nível de Secretaria. Em 1986, também não pude deixar de aceitar a missão de ser vice na chapa – ao governo do Estado de São Paulo – do empresário (grupo Votorantim) Antonio Ermírio de Moraes (perdeu pra Orestes Quércia no Interior mas ganhou na Capital). Certa manhã, recebo um telefonema de Jânio, com sua voz inconfundível, pedindo que voltasse porque o Hélio Djtiar entendia menos de computação do que ele de pirâmides do Egito. Voltei e me lembro de ter tido a primazia de apresentar um computador ao Jânio pela 1ª vez. Entretanto, ele tinha uma aguçada percepção da importância da tecnologia da informação como ferramenta de gestão. A PRODAM mereceu seu apoio irrestrito e demos um gigantesco salto tecnológico na área pública.

M U N D O 

… Minhas palavras finais, são das lembranças de ter conversado recentemente com uma jovem, de nome Nathalia, quando perguntei se ela tinha ouvido falar em Jânio Quadros. Ao que ela me respondeu ‘lógico que sim’. Qual não foi meu espanto quando a moça perguntou sobre o que ele (Jânio Quadros) faria pra tirar o Brasil da situação na qual se encontra (leia-se políticos, instituições – públicas e privadas – e mensurável parte de segmentos sociais, com ações diárias desde pequenos furtos, passando por corrupções ativas e passivas, até grandes roubos). Vivemos tempos diferentes, com realidades diversas. A única resposta que podia dizer a ela era de que Jânio usaria as características que marcaram sua personalidade, que o faziam uma pessoa única, entre as quais eu destacaria caráter, dignidade e autoridade. É uma pena que já não se faz políticos como antigamente. Ninguém pode fugir da História. A política como arte teve em Jânio um mestre. Vai demorar muito, mas muito mesmo, pra aparecer outro igual”.  Em tempo (pensamento e texto do editor desta coluna diária de política): “o também imortal José Roberto Faria Lima não disse, mas é muito possível que o “não se faz mais políticos como antigamente” inclua a ‘morte’ do ser humano natural, substituído pela ‘vida’ artificial e virtual, programadas pra controlar e induzir, gerando a sensação de que você não tem a capacidade de pensar, falar e fazer sem que sistemas e máquinas te ‘ensinem’. Pra sorte da moçada, justamente uma referência histórica da Tecnologia da Informação – José Roberto Faria Lima – ensina que o problema não é a tecnologia, mas os péssimos usos que podemos fazer dela. Isto vale pra todos os segmentos da sociedade mundial. Não seria diferente na política”.

E D I T O R

O jornalista Cesar Neto vem publicando esta coluna diária desde 1992. Ela foi se tornando referência na política e uma via das liberdades possíveis. Ele está dirigente na Associação dos Cronistas de Política (São Paulo).
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cesar.neto @ mais.com
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